Escrevo este Editorial da AIRO a 1 julho 2017 dia quente de Verão ainda no principio e, no entanto, já marcado por incêndios e seu rasto de destruição e perdas de vidas. E medos de repetições...
PARAR PARA PENSAR OU A RESPONSABILIDADE E O PODER DA CIDADANIA
Há muitos anos que se conhecem as causas e se sabe, por via de vários estudos e especialistas e das próprias lições da natureza, o que é preciso fazer.
Mas falta Acção! Pouco ou nada se tem feito de concreto.
Talvez por haver muitos interesses instalados e faltar a vontade real ou força para lhes fazer frente... até ao próximo Verão... imagine-se, que agora até a “época de fogos” já nem respeita o calendário definido administrativamente(!).
Há anos e anos que existe uma acumulação confusa e certamente cara de “Autoridades” que competem na secretaria e têm grande dificuldade em tomar decisões e ainda maior em fazê-las implementar em tempo útil.
Os negócios do “combate aos fogos”, ainda por cima com custos acentuados pelo sistemático carácter de urgência, agradecem...
Mas algumas destas autoridades lá vão estando disponíveis para as câmaras e os microfones que lhes colocam à frente para constatar o facto consumado.
Está tudo mal, do desordenamento do território, à desertificação, da gente a menos (por ex.guardas florestais), à gente a mais (por ex sobreposição de autoridades...), enfim já tudo foi dito e escrito e não é necessário repeti-lo e quanto mais se tardar a mudar mais irreversível será o empobrecimento do país agora e a prazo (doenças do foro respiratório e seus custos, esgotamento dos solos etc..).
A questão de fundo é a desertificação propriamente dita (só para a já famosa administração Trump nos EUA é que o Aquecimento Global não é uma realidade!), mas sobretudo falta de pessoas em idade ativa nas terras, florestas que de floresta autóctone já tem muito pouco, rendidas à rentabilidade que dá o eucalipto e o pinheiro bravo para a industria das celuloses. Conclusão: Muita conversa com especialistas que aparecem em todos os lados, reportagens do dia, da hora, do momento, chocantes mas com todas as tecnologias de ponta necessárias (preferia que os drones fossem utilizados para fornecer informação de forma continuada aos cuidadores da floresta, em vez de servirem para mostrar imagens televisivas da “estrada da morte” onde morreram 64 pessoas no incêndio de Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, dia 17 de Junho).
Como pano de fundo um jogo do empurra de responsabilidades nada edificante.
E Portugal com a maior área ardida da Europa! Como se já não bastasse soube-se, entretanto, dia 27/6 de um enorme roubo de armas e explosivos em importantes instalações militares portuguesas (Base de Tancos) volumosos e pesados, “operação” feita com que logística?
Que meios exigiu e quem foi responsável? Alguém se lembra do roubo de centenas de passaportes portugueses assinados, em Consulados nacionais há alguns anos? Potencialmente tão perigosos como armas...
E ninguém é culpado de nada, assumindo as consequências?
Passa o tempo, o assunto do dia e tudo se apaga?
Tudo isto gera uma inevitável sensação de grande impotência que só a cidadania assumida concretamente pode evitar. É a principal mensagem deste Editorial.
Basta!
A verdadeira cidadania é muito mais do que votar (felizmente em democracia) e de ser solidário pós catástrofes, em ações que muitas vezes carecem de controle.
Perante o caos instalado há muitos anos em vários organismos bloqueados por razões diversas, é preciso mais do que protestar/comentar/ajudar à posteriori.
O mais simples empresário de uma Pme sabe que se não tomar decisões e as implementar em tempo útil, desaparece!
Exercer a cidadania para ajudar passa por dizer NÃO a mais situações como estas, criar alternativas válidas através de alianças com os melhores e mais capazes portugueses, independentemente de opções politicas. E avançar, recusando a tal sensação de impotência!
E obrigar que se tire partido dos fundos disponíveis e da evolução tecnológica para atrair mais pessoas para o interior, reequilibrando o território.
Para reverter e revitalizar o que é necessário e tirar partido das muitas vantagens competitivas que temos, há que lançar uma política fiscal adequada com importantes incentivos para quem se instale e desenvolva atividade empresarial no interior.
Sempre numa perspetiva aberta e Europeia, do sec.XXI.
E para terminar cito, também esperançada como ele, Edgar MORIN, sociólogo e antropólogo Europeu, nascido em 1921 e acreditando no futuro:
“Eu, ao chegar ao fim da minha vida, se olhar para a politica que não existe, para o desastre ambiental, para o mercado que domina etc, poderia dizer: bem, já acabou, não já?
Mas não, eu estou convencido que existe no mundo esta humanidade que está a mudar as coisas nas suas comunidades.
QUANDO TUDO DEVE RECOMEÇAR, ENTÃO É PORQUE TUDO JÁ RECOMEÇOU” Ana Maria Carneiro Pacheco (Presidente da Direção da AIRO) UPGAMP, S.A.
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